domingo, 28 de novembro de 2010

Não queime suas asas, ainda.

Tempo, tempo, tempo... dizendo...
Toca este timbre com teus dedos.
Queime-os e deixe-me assistir à câmera lenta acompanhar esta angústia, dança de sombras que se fazem no seu claro imaginário. Não ouse abrir os olhos - tudo o que você verá é a escuridão. Esses passos ora lentos, ora inassistíveis que você dá ao pisar em minas, todo este labirinto contribuirá para te fazer aprender a voar. Forçadamente, assim, uma rota alternativa à sua prisão perpétua. Engane-se de vez em quando, te fará bem. Deixe a loucura tomar posses autodestrutivas, deixe que cada soluço arranque notas complexas da música que você compõe ao respirar.
No fim jaz tua adaga. E você lembrará, ou não, daquelas palavras. E verá, finalmente, sentido.

Finalmente sentindo.

3 de setembro

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

a year goes by

É engraçado ver o destino brincar comigo. É uma criança risonha que faz algo em meu corpo chorar sem graça ao ver seu nome repetir-se diante dos meus olhos acidentalmente enquanto algum barulho tortuosamente agradável entra por meus ouvidos... Não, você não liga a mínima.
Talvez na sua paz excessiva não houve um último olhar na direção em frente, você segue, apenas como sempre, pois é o que nos diferencia: você sabe, eu não. Não consigo dizer adeus mudamente e apenas ir para longe, é a minha sina que você rouba e desgasta, voluntariamente me corrompe e zomba. E outra vez eu tento, mas você parece indiferente e finge bem demais.
Entretanto nunca é bom o suficiente meu pedido para que você continue alimentando essa paz pairada no ar... Então eu te digo adeus, e até amanhã, quando prometo não lutar mais por nós dois. Não... você não liga a mínima.

(27/04/2009)

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

oh, my paper flowers...


Não há espaço entre essas fumaças magentas onde sequer um rastro seu ainda paira no ar. A reflexão da luz proveniente de estrelas próximas é demasiadamente escassa e este é meu artefato de auto-enganação – viver nessas nebulosas.
Estritamente carrego sentidos onde não os posso mais guardar... as órbitas que aqui me cercam parecem ruir ao causarem-me constantes déja-vus, lembranças apenas, provas de que algo simplesmente já foi. Ando em meio às constelações austrais fazendo refletir minhas esperanças em Órion quando você, talvez nesse instante, encontre-se em Lira...
A distância é tudo o que não cabe no intervalo de percepção da minha mente já sedada, e essa galáxia nunca me pareceu tão irregular. Percebo: esses pontos brilhantes enganam-me. Seus posicionamentos revelam-se relativos e desafiam toda a certeza anterior à essa quebra de expectativa. Abro meu olhos para a direção onde eu, supostamente, deveria te ver...
Você é apenas um fantasma, agora.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

inseto efêmero e física quântica


Estive nos últimos minutos em outra dimensão – ou aqui mesmo - tentando visualizar tal relação entre toda essa efemeridade que corresponde simultaneamente a esses dois fatores conspiratórios e ao mesmo tempo absurdamente próximos. Ambos estão alimentando-se de você ativamente neste exato momento.

Efemeridade e teoria da conspiração. Não preciso de enigmas. Toda essa teoria que já formulei em minha mente e que insiste displicentemente em retornar-me em todos os tipos de momentos tortuosos... Nenhum mistério.
Imaginemos acordar um dia e simplesmente viver, ou existir, no caso específico de ser apenas mais um dia – o que usualmente temos. Então dormimos de novo e para sempre abandonamos aquele ser que fomos por apenas um dia, embora não tenhamos tal conhecimento. Então acordamos sendo outro e assim por diante. Memórias e lavagens cerebrais constantes nos sendo impostas e suplantadas logo além; uma perfeita realidade onde seríamos igualmente ignorantes de tal fato. Cômico pensar que finalmente teríamos igualdade em plenitude.

Impus-me tal possibilidade e desde então sonho por pensamentos – não em possibilidades, afinal o quê almejar? Uma possível ruptura do invisível, um insólito atravessar de paredes? - Mas o que aprisiona e explode parte de minha consciência é tudo tender a essa passagem do belo irreal para a quebra de expectativa, essa concessão do imutável ser algo tão naturalmente aceito pela vida quando minha vontade é simplesmente quebrá-lo em pedaços. Não consigo pensar em outra solução senão transmitir essa energia vibratória de dentro, que insiste em ameaçar alguma espécie de implosão a qualquer instante. Tudo tende a ser efêmero. Analiso então novamente o abismo fatal entre homem - inseto ephemeroptera
Não há nenhum.


E em conjunto à narrativa, uma desproporção de personagens, tempo e espaço.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

"you could be happy"

O primeiro passo é olhar para os lados. Creio que sempre tenha sido. Isso será inevitável, principalmente para você, ser humano. Mas não se perca ou sequer distraia-se, provém dali a fonte de sua cegueira descontínua...
Trace uma linha no chão. Levemente, gradualmente, e então, de repente, pare. Você a seguiu ao mesmo tempo em que a encaminhou, e por entre seus dedos talvez ainda reste vestígios do que você costumava usar para desenhá-la, esses pequenos pedaços de certeza que ainda estão sólidos entre seus dedos te confirmam que você passou pelo trajeto que refaz em sua mente, mesmo que tudo esteja escuro demais atrás de você para ser enxergado com nitidez. Há uma neblina... certo? Há uma angústia enlouquente recém-saída de seus suspiros que, aos poucos, surpreenderam até a você mesmo.
(O tempo passa.)
E se você olhasse ao chão e simplesmente percebesse que a linha traçada não existisse mais?  Melhor, não coloquemos deste jeito inflexível – e se tal linha simplesmente não estivesse mais onde costumeiramente você virava-se a buscar? As possibilidades formuladas por sua mente insaciável são quase palpáveis... ela podia ter sido apagada com o tempo. Ou podia nunca ter existido. Talvez você tenha ficado cego... Ou talvez tenha sido cego por todo este tempo, e apenas agora aprendeu a ver. Por que sempre tem algo a questionar sobre seu próprio modo de enxergar? Todos esses anos e até hoje ainda sente-se em um abismo que o faz duvidar sob o que lhe é mostrado. Poderia ser diferente?
O tom musical que você buscou ouvir, imaginou e idealizou começa baixo em seus tímpanos – como cristais que, ao tilintarem, provocam de longe a cobiça do colecionador. Na ponta dos pés você começa uma dança. Fechando os olhos abraça a ignorância para com a existência (ou não) da linha que você costumava procurar, do destino que você costumava oferecer com lágrimas e sangue todos os dias.
Eis que de novo há o ato vital: gradualmente, então de repente... A certeza de que não há mais a necessidade de ter-se tal reta imaginária.
Seus passos descontínuos o provam, já que seus pensamentos são o inverso. Todo o sabor dessa independência sobe-lhe à essência de beber de uma nova fonte, coisa que você jamais imaginou possível.

Gradualmente, então de repente... a felicidade.