O primeiro passo é olhar para os lados. Creio que sempre tenha sido. Isso será inevitável, principalmente para você, ser humano. Mas não se perca ou sequer distraia-se, provém dali a fonte de sua cegueira descontínua...
Trace uma linha no chão. Levemente, gradualmente, e então, de repente, pare. Você a seguiu ao mesmo tempo em que a encaminhou, e por entre seus dedos talvez ainda reste vestígios do que você costumava usar para desenhá-la, esses pequenos pedaços de certeza que ainda estão sólidos entre seus dedos te confirmam que você passou pelo trajeto que refaz em sua mente, mesmo que tudo esteja escuro demais atrás de você para ser enxergado com nitidez. Há uma neblina... certo? Há uma angústia enlouquente recém-saída de seus suspiros que, aos poucos, surpreenderam até a você mesmo.
(O tempo passa.)
E se você olhasse ao chão e simplesmente percebesse que a linha traçada não existisse mais?
Melhor, não coloquemos deste jeito inflexível – e se tal linha simplesmente não estivesse mais onde costumeiramente você virava-se a buscar? As possibilidades formuladas por sua mente insaciável são quase palpáveis... ela podia ter sido apagada com o tempo. Ou podia nunca ter existido. Talvez você tenha ficado cego... Ou talvez tenha sido cego por todo este tempo, e apenas agora aprendeu a ver. Por que sempre tem algo a questionar sobre seu próprio modo de enxergar? Todos esses anos e até hoje ainda sente-se em um abismo que o faz duvidar sob o que lhe é mostrado. Poderia ser diferente?
O tom musical que você buscou ouvir, imaginou e idealizou começa baixo em seus tímpanos – como cristais que, ao tilintarem, provocam de longe a cobiça do colecionador. Na ponta dos pés você começa uma dança. Fechando os olhos abraça a ignorância para com a existência (ou não) da linha que você costumava procurar, do destino que você costumava oferecer com lágrimas e sangue todos os dias.
Eis que de novo há o ato vital: gradualmente, então de repente... A certeza de que não há mais a necessidade de ter-se tal reta imaginária.
Seus passos descontínuos o provam, já que seus pensamentos são o inverso. Todo o sabor dessa independência sobe-lhe à essência de beber de uma nova fonte, coisa que você jamais imaginou possível.
Gradualmente, então de repente... a felicidade.